terça-feira, 24 de junho de 2008

EU E MEU MELHOR AMIGO

O meu melhor amigo morreu numa tarde triste de sexta feira.
O sol ainda era quente e o calor era intenso. Morreu de um jeito cruel, vítima de um sistema político e religioso que não sabia entender que Deus prefere os miseráveis. Morreu porque amou demais, morreu porque não sabia mentir.

O meu melhor amigo não sabia ser indiferente. Viveu o tempo todo recolhendo os que estavam caídos e desacreditados. Ele foi um ser humano inesquecível. Entrava em lugares proibidos e dormia na casa de pessoas abomináveis. Trocou santos por Zaqueu, doutores por Mateus.

Não se preocupava com que os outros estavam achando dele, mas ocupava-se de sua vida como se cada instante vivido fosse o último.

Meu melhor amigo tinha o poder de ser irreverente. Ele olhava nos olhos dos fracassados e lhes restituía a coragem perdida. Segurava nas mãos dos cansados e os convencia que ainda lhes restavam forças pra chegar.

O meu melhor amigo era desconcertante. Tinha o dom de confundir os sábios e encantar os simples. Eu um dia também me encantei com ele.

Chegou num dia em que eu não sei dizer qual foi. Chegou numa hora que eu não sei precisar. Sei que chegou, sei que veio. Entrou pela porta da minha vida e nunca mais o deixei sair.

Somos íntimos. Minha fala está presa à dele. Eu o admiro tanto que acabo tendo a pretensão de querer ser como ele. Já me peguei cantando pra ele os versos de Tom Jobim: “Não há você sem mim e eu não existo sem você!” Ele sorri quando eu canto...

Meu melhor amigo me ensina a ser humano. Ele me ensina que a vida é uma orquestra linda, mas dói. Ele me ensina a apreciar os acordes tristes... e aí dói menos. A beleza distrai a tristeza. Foi assim que eu assisti à sua morte na sexta feira santa. Eu sabia que era passageira. Era apenas um interlúdio feito de acordes menores, dilacerantes de tão tristes.

Meu amigo não sabe ser morto. Ele gosta é de ser vivo, vivente! E é assim que eu entendo a dinâmica da Ressurreição. Quando digo: “Ele está no meio de nós!” eu estou convidando o meu amigo a ser vivo através de mim.

Quem ama de verdade leva sempre a criatura amada por onde vai. E é assim que o amor vai se tornando concreto no meio de nós. É assim que a vida vai ficando eterna... e a gente vai ressuscitando aos poucos...

Hoje eu acordei mais feliz. Nada de especial me aconteceu. Apenas me recordei que meu melhor amigo ainda acredita em mim, apesar de tudo. Eu sou um legítimo representante de sua ressurreição no mundo. Não posso me esquecer disso. As pessoas olham pra mim... eu espero que elas não me vejam... eu espero que vejam o meu melhor amigo, em mim.


Texto retirado do blog do Pe. Fábio de Mello, publicado na Sexta-Feira Santa...
Sabemos bem de quem ele fala, certo?!
É minha mensagem de hoje...

Apaixone-se por Jesus através dele:
www.fabiodemelo.com.br/blog

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